Amante

O gosto do seu perfume azeda minha boca já seca de não respirar. A menos de uma hora seu corpo encobria o meu num casulo sufocante do qual sai um passo evolutivo antes do que entrei. Em um minuto me senti a garotinha inocente a espera de um abraço e no seguinte o desconforto no estomago do seu volume pressionado em minha barriga. É assim tão louco pedir que controle seus instintos? Me sinto a presa que nervosa relaxa e se deixa devorar pelo predador faminto e suado.

Ao voltar para casa, esfrego o sabão no meu corpo na tentativa exaustiva de tirar esse cheiro encorpado de testosterona e vergonha. O silencio interno da água dura só até quase me afogar em obsessões. E se não tivesse ido? E se nem mesmo te conhecesse? Me parece muito mais fácil lidar com um desconhecido que fez besteira do que um amante que usa da minha paixão para se satisfazer.

Três noites de choro. Duas horas sentindo que meus seios não deveriam existir, junto a todo o resto do meu corpo que já não sinto pertencer. Uma unica decisão que você tomou. Sua namorada deve estar chateada, afinal foi a ela que você foi se explicar. Não ouve comoção por mim, não tinha porque se importar com uma simples caricia quando foi tudo um simples erro.

A intensão era outra. Mas então por que o gosto de acetona ainda preenche minha boca? Na embalagem dizia que removeria tudo isso, mas também falava de "morte", assim mesmo, entre aspas como se fosse relativo. Não devia confiar em relativizações, foi o que me trouxe até esse momento de descrença na humanidade.

Amanhã acordo cedo, isso se conseguir dormir.