Ring Ring
- Liah Santana
- 23 de nov. de 2019
- 2 min de leitura
O telefone toca. Meu coração dispara na esperança de ser alguém com quem não falo a muito tempo. Nesse caso, poderia ser qualquer um. O amor que perdi a anos atras, o amigo que por confusões jovens eu deixei de lado, noticias da prima que faz mais de mês que ta no hospital, qualquer um. Não recebo ligações a tanto tempo que nem sei se consigo soar natural. É como pedir que não sonhe depois de semanas sem conseguir dormir.
O telefone toca. A expectativa fica maior a cada pausa entre um badalar e outro. Nem mesmo sei quem realmente tem esse numero. Talvez seja uma cobrança qualquer, um engano bobo ou alguém a procura das pessoas que já não moram mais aqui. Não tenho como saber antes de atender.
Da mesma forma, não sei se tenho a resposta se me perguntarem algo. Um numero de algum parente, o paradeiro de alguém desaparecido, uma entrevista longa para uma estatística governamental. Já vi situações ridículas que podiam ter sido evitadas se simplesmente deixassem tocar. Custa muito mais falar do que se manter calado.
Posso também pega-lo, ouvir e nada responder. Tantas vezes já fingi uma falta de conexão quando o interlocutor me pareceu desinteressante. Um simples alô repetido no compasso certo diz mais do que qualquer explicação incomoda que eu poderia inventar. Será que minha curiosidade é maior que a minha necessidade de me manter integra e isolada?
O telefone para. Desde já me arrependo de te-lo deixado se esgotar dessa forma. Podia ser algo importante, até porque alguém se dispôs a discar e esperar enquanto eu me perdia em devaneios. Se bem que se fosse mesmo urgente teriam mandado mensagem ou ligado para o celular pessoal. A menos que, mais uma vez penso, não saibam o numero. Nem faz sentido me desesperar por um telefonema que nem mesmo atendi, muito pior seria atender e me arrepender do ato já em decorrência. Não vou encher meu peito com ansiedades, o silencio da minha casa não vai ser preenchido com algo que pouco me importa.
O interfone toca.
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