Reencontro
- Liah Santana
- 19 de ago. de 2019
- 2 min de leitura
Na loucura da cura de feridas abertas cutucadas na manhã de domingo, corro e retoco o reboco que esconde as cicatrizes. O sangue borbulha fervente quase crente que vai transbordar, quando no sábado o abraço apertado relembra o amor que não deixa de estar. Confusa e molhada da chuva cortante que demora a cessar, corro pra casa, na droga a morada daqueles que sofrem. Grito abafado no casaco apertado, morrem os maduros e acordam os que só são jovens por costume. Te olho de lado, sorriso amarrado quase sufoca, te xingo, nem ligo, não bato nem caio na besteira de me apaixonar. Coração é soldado perdido sentado esperando o resgate, no caótico momento, me lembro em silencio que ninguém vai salvar. Puxo do bolso, o fogo e a Juana, ela sim, sacana, pode me dar aquela mãozinha para aliviar. A noite é longa, já mais do que zonza me vejo a refletir, sem pé nem cabeça, a alma: me ponho a sentir a brisa do quarto antes de tossir. Todos tentando esquecer a vida, cheira aqui dropa ali, não tem mais saída. Já to apertada, na hora me trava e finjo não ver, o tesão escondido a tanto perdido no corpo que não toco nem quero tocar. É bobo, pode falar, to louca sem rumo jogada na sala de um estranho qualquer. Bebem mais, cheiram mais, fumam mais e de olhos tremendo só por um momento esqueço de te esquecer, lembrando aos poucos como é louco viver sem você. Nem mesmo me olha, chora por horas sem nem demonstrar, que sente também a raiva que vem ao amar alguém que não pode ficar. E nisso acordamos, bafo de fumaça, as sete na praça volto a pensar no corpo suado substituto adequado ao que resolvi abandonar. Me lembro depressa o quanto me estressa, ao me jogar sem pensar e de novo me machucar por esse gozo momentâneo. Domingo chuvoso, travesseiro macio, nossa cama mais uma vez presencia a menina carente e seu príncipe encantado, separados pela certeza da morte e cobertos por incertos prazeres de carinhos secretos em meio à ilusão. Então respiro, transpiro também, enquanto cubro com algodão tudo aquilo que não vai parar de inflamar. Lá vem outro abraço, agora roubado, na mudança de lado eu como autora e ele como passivo, foi rápida a cena. Com massivo esforço, a garota problema também é pequena e escreve poema para não esquecer esse mundo sozinho, que ninguém mais vê.
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