top of page

Finde

  • Foto do escritor: Liah Santana
    Liah Santana
  • 28 de jul. de 2019
  • 3 min de leitura

Na manhã do domingo é difícil levantar. Depois de duas noites viradas meu corpo deve achar que to de sacanagem em tentar me arrastar pela casa antes das dez. Também já to ficando velha para festejar a juventude até amanhecer, tenho consciência disso. O que não tenho muita certeza é de quem é esse apartamento estranho onde me acordei da bebedeira. Pelos cheiros e a bagunça desse quarto com certeza fiz muito mais que dormir, o que me conhecendo bem posso dizer que é raro e de certa forma turbulento. Pelo menos acordei minimamente vestida, com uma camisa e uma cueca curta, o que é bom para evitar auto julgamentos e pavores de contaminação improvável que ocorreriam se estivesse ao natural.

Na sala não tem fotografias nem escrivaninhas, só quadros que parecem ter sido pintados por crianças estranhas. Não conheço ninguém que tenha feito a besteira de por gente nesse mundo, muito menos entrei na onda de beijar jovenzinhas como fazem meus amigos antiquados, então devo ter transado com algum tipo de artista experimental ou amante da arte terapia. O sofá áspero me faz imaginar que visitas não são costumeiras, ainda mais por não ter uma tv ou qualquer tentativa aparente de aconchego para além da expressão de personalidade extravagante de quem vive aqui. Na verdade, tenho mais curiosidade do que necessidade de saber onde estou. Aproveitando que não parece ter ninguém para me expulsar ou irritar com frescurites, me parece uma boa ideia aproveitar e comer de graça antes de precisar ir embora.

Puta que pariu! A cozinha é maior que o minha republica inteira, contando banheiro e tudo mais. Eu devo é ter dormido com a porra da traficante para ter tanta fartura assim. Umas frutas e ervas com certeza não farão falta para ninguém. é esquisito pensar que cheguei a esse ponto da vida, de me sentir tranquila sem saber com o quem to lidando. Não me faltaram motivos para ter medo do mundo e principalmente das pessoas, os últimos anos só tem aumentado a certeza que tenho de que o ser humano é egoísta e principalmente reativo pelo medo do diferente. O que acho engraçado é que nunca vi nada ser igual, a cada segundo percebo o quão único é cada ser vivo, sem idealização ou essas besteiras zen, pensando no cru da vida mesmo. Um exemplo é o quanto eu mesma julgava quem usava qualquer tipo de drogas como perigoso, e hoje aqui estou eu bebericando um chá e fumando uma erva de alguém que nem lembro de ter conhecido, confiando no meu eu alcoolizado a tarefa de ter escolhido alguém em quem eu pode-se agora confiar minha vida por uns instantes. É meio bobo o costume de tomar chá na janela esperando a hora passar, não tem realmente muito o que olhar ou pensar independente da altura, mas velhos hábitos se tornam difíceis de mudar, principalmente os bobos. As paisagens parecem todas iguais se você passa tanto tempo as observando e tenho uma teoria que nas próximas gerações vai ser tão parecido e simples ver a beleza da natureza em smartcoisas que não terá mais a emoção nessa visão ao vivo. Talvez já não tenha para mim.

Se passam horas sem que tenha que dizer uma palavra, nem mesmo lembro como é interagir com outros seres considerando que não há ninguém para me despertar para isso além da minha consciência já tomada pela solidão. O chá acaba uma, duas, três vezes e a repetitiva analise das gavetas mentais na busca da noite perdida é tão ridícula quanto o próprio fato de deixar que os dias se passem sem lembra-los. Já me conheço o suficiente e posso desenhar a planta de onde estou com a ponta dos dedos na areia se necessário, então cheguei no ponto que encerra a minha jornada de conhecimento atual. Ou busco mais ou desisto e descanso em paz. To decidida a só voltar para casa quando não tiver mais tanto calor, o que me parece racional e responsável, assim não danifico minhas asas já tão carcomidas pelo tempo.

Posts recentes

Ver tudo
Ciclos e corais

Li em algum lugar que o hábito de catar conchas é prejudicial ao ambiente marinho, mexendo com todo um sistema que depende delas para se...

 
 
 
Lilíta e os doces

Declaro guerra à vida adulta! Não basta eu ter que seguir esse caminho estupido de buscar desesperadamente um emprego para odiar, ainda...

 
 
 
Aghostina e o gato

Ela deixou um bilhete em cima da mesa da sala. Ou pelo menos foi como disse que fez. A conheci pedindo abrigo na pousadinha improvisada...

 
 
 

Comments


Posts Recentes
Arquivo
Procurar por tags
Siga
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Basic Square
  • Google+ Basic Square

© 2016 by Ecletismo Cronico. Proudly created with Wix.com

  • Facebook App Icon
  • Twitter App Icon
  • Google+ App Icon
bottom of page