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Juana

  • Foto do escritor: Liah Santana
    Liah Santana
  • 21 de abr. de 2019
  • 2 min de leitura

Uma vez chapada, tive a melhor ideia textual de todas as que já tive na vida. Iria ser um texto engraçado, ao mesmo tempo dramático e sentimental sobre algo que pensava entender na infância mas fui mudando de ideia durante os anos. Com certeza era minha decolagem como escritora, me senti a própria Virginia Woolf com tal inspiração. O inicio já tava pronto na minha cabeça e com toda certeza chamaria a atenção de qualquer leitor. Deitada como se fizesse parte do sofá, olhei para os meus amigos dançando e bebericando suas vodkas nojentas, eles nem imaginavam o quanto de sucesso eu iria fazer. Minha vontade foi de pegar o microfone da pequena caixa de som e disparar em falar aquela sequencia de palavras incríveis que deixariam todos emocionados, mas me contive. Era melhor guardar por enquanto e elaborar perfeitamente para só então contar a todos minha historia. Talvez depois dessa me viessem mais lembranças para material literário e enfim o meu livro estaria pronto, estou adiando ele faz anos. Meus pais enfim teriam orgulho ou pelo menos leriam algo que produzi. Mal posso esperar.

Na manhã seguinte, a sobriedade me veio como um tapa acidental na face de um desconhecido: esqueci o assunto. Sabe o conteúdo em si? A parte que importa e onde quero chegar com tudo que disse anteriormente na narrativa? Pois é, não tenho ideia de qual era. Me esforcei ainda, remoendo mentalmente varias e varias vezes cada detalhe da minha infância e nada. Remontei minha trajetória da noite profana que havia passado, tanto lembrando de cada passo quanto voltando ao lugar onde pensei pela primeira vez e assim mesmo nenhuma noção do que me inspirou. Maldita seja a Maria Juana! Me da o papel e caneta pra depois rasgar tudo. Nem mesmo posso pensar que era só uma viagem e que na real não era importante porque esse detalhe eu lembro: era a melhor ideia que já tive! Parece aquelas questões de livro de português que você completa as frases sabe?

"Quando eu era pequena achava que________. Depois de alguns anos mudei de ideia porque__________...".

Nem mesmo posso perguntar se alguém lembra pelo fato de que minha mente drogada estupida me convenceu de que deveria ser um segredo. Como vou me atrever a escrever qualquer coisa sabendo que minha obra-prima ta perdida no meu inconsciente, provavelmente junto com diversos pensamentos sem sentido a contaminando? É supérfluo imaginar que em algum momento lembrarei dela e nem me venha com "fuma de novo para ver se volta" porque já tentei também e o maximo que consegui foi uma estranha vontade de transar e dez hamburgueres veganos enchendo minha barriga. O que me resta é o luto de quem poderia ter sido e de quem fui e não me lembro.

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