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Controversa

  • Foto do escritor: Liah Santana
    Liah Santana
  • 9 de abr. de 2019
  • 3 min de leitura

Nunca dormimos juntos, nem mesmo havia essa possibilidade. Tinha muita coisa acontecendo e eu ainda estava me libertando dos meus pais que de repente ficaram super protetores.

Imagina quão boa foi a sensação ao sentir as mãos dele me puxarem por trás, juntando nossos corpos, e ouvir aquela voz rouca tão próxima ao meu pescoço. Me falava putarias que naquela situação me pareciam do mais puro romance. Só de dividirmos a coberta e aconchegar-me abraçada àquele corpo já me senti enamorada. Gargarejamos com vodka para tirar o gosto de sono de nossas bocas e nos beijamos enquanto me erguia para sentar na janela.

Foi ai que acordei nervosa. Ao meu lado quem dormia era o meu namorado, muito diferente do cara com que acabará de sonhar. Beijei suas costas e fui alimentar nosso gatinho que já miava sem parar. Quando voltei para cama me pus a refletir sobre o rapaz do meu sonho.

Como disse anteriormente, nunca dormimos juntos. Não só por na época eu ser uma jovem com pouca liberdade, mas também pela natureza de nossa relação. O conheci numa festa enquanto fugia de um garoto que tentava me beijar e conversamos por horas. Depois disso estive com ele por meses, antes de conhecer meu atual e enquanto ficava com outros dois caras num envolvimento bem ao modo She's Gotta Have It.

De todos ele era o que mais me fazia sentir adulta e dona de mim, não havia cobranças nem compromissos imperdíveis entre nós. Ele me apresentou animes sentimentais e varias historias mirabolantes de sua família. Quando sentíamos falta de um beijo ou de uma conversa qualquer (geralmente sobre suas aventuras sexuais), era só mandar mensagem e se ver em alguma parte da universidade. Era simples, sem pressão. Eu não parava de sorrir quando ele chegava com suas grandes unhas e cara de desdém. Parecia um príncipe de algum país distante, inclusive porque falava cinco linguas e era exageradamente cortês. Uma coisa interessante é que foi único com quem nunca transei. Não faltaram tentativas em festas ou quando marcávamos de "ver um filme" em sua casa, mas sempre que chegava a hora eu travava. Diversas vezes passei mal ou entrei em panico e ele deixou pra la e cuidou de mim. Nunca fui muito fã do ato em si, porém com os outros eu me deixava levar e guardava os arrependimentos para depois.

A ultima vez que nos vimos foi numa festa em que beijamos muitas pessoas e acabamos juntos num banheiro dos fundos da casa. Não aconteceu nada de mais, entre os beijos deixei claro que ali era o limite e ele recuou. Logo depois fui embora e no meio de todo resto perdemos o contato.

O nervosismo que me assolou ao acordar esta manhã foi por algo que aconteceu depois de nós. Alguns meses atrás voltei a receber noticias do rapaz: ele era acusado de estupro por duas garotas. Foi uma loucura de informações soltas e julgamentos decretados. Todas as minhas amigas dizendo que já imaginavam, que ele era esquisito, que não entendiam o porquê de eu ter estado com ele. Era loucura! Logo eu, que sempre defendi que a vitima tem sempre razão, questionando varias e varias vezes em minha mente como isso foi acontecer. Veja bem, eu sei que aconteceu e até detalhes me contaram, a questão é o sentimento dividido que se instaurou em mim. Sonhar hoje com ele sendo carinhoso é assustador por pensar que enquanto comigo ele era atencioso e paciente, com outras ele estava ignorando as negativas e violando seus corpos. Não é facil e rapido tirar a imagem de amante e enxergar atitudes cruéis, mas é necessário.

O despertador toca de novo e preciso levantar para ir para casa, já faz tempo que procrastino para não lidar com a minha vida. Me visto, dou um beijo de despedida no meu amor e sigo na esperança de que o longo caminho seja suficiente para esquecer de sonhar.

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