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Sofá

  • Foto do escritor: Liah Santana
    Liah Santana
  • 28 de fev. de 2019
  • 2 min de leitura

Meu namorado decidiu se mudar. Resolveu sair da casa da nossa amiga para um apartamento mais confortavel, onde nosso gatinho não tivesse que lutar com ratos gigantes e ele podesse ter um quarto com porta para relaxar. Foram semanas visitando diversos lugares, conhecendo proprietarios esquisitos e matutando como levar os moveis que estavam cada um em um canto da cidade. Finalmente chegou o dia, na base da correria e da raiva que alimenta a alma, juntamos amigos e fizemos a mudança. Eu, vegana e anemica, e mais três magrelos jogadores de RPG carregamos cada movel pelo condominio e pelas escadas até chegar ao apartamento. Teve geladeira gigante inferrujada, cômoda se abrindo como se tivesse vida propria e os benditos dos sofás que não passavam de jeito nenhum na porta, além de todas as outras coisas que prefiro nem citar. No fim de tudo, os meninos foram embora, tomamos banho e deitamos para descansar e sentir o quão doloridos estavam nossos corpos. De manhã, ele foi pro trabalho e me sentei no sofá com um copo d'água e um livro de fantasia que achei na estante. O pequeno corria pela casa e o silencio preenchia cada comodo como se estivesse escondido a dias, esperando para me surpreender. Foram horas de leitura e posições mirabolantes naquele acolchoado macio. Me vi aberta, solta, nem mesmo lembrava da existencia do meu corpo ou do mundo la fora. Tive que sair de la já atrasada para a aula, resolver questões medicas, ajudar amigos numa gravação e voltar correndo do ponto para não lembrar que estava sozinha naquele longo escuro. Cheguei, falei com meus pais e sentei na cozinha para descansar. Finalmente algo substancial para comer, mas um silencio desconfortavel tomava conta da mesa. Mais tarde nessa mesma noite me vi fechando as janelas da sala, sentando no sofá e pensando: "Quero ir para casa". Assim, no automatico. Foi um susto, juro. Eu estava cansada, precisava tomar um bom banho e dormir por longas horas. Tudo que eu queria era ir para casa, mas, teoricamente, já estava nela. Nem o conforto, nem a estabilidade, a minha familia ou qualquer detalhe do lugar que moro me impediram de sentir assim. Tentei me aconchegar, assistir series, comer por pura gula, mas nada. Liguei pra ele agoniada, gritei que queria minha casa. E foi assim, ou quase, que encontrei meu lar.

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