Mudança
- Liah Santana
- 22 de out. de 2015
- 1 min de leitura
Entro no meu apartamento vazio. Observo cada cômodo emocionada. Na sala, eu poderia dançar uma linda valsa com um longo vestido vermelho. Poderia passar pelo estreito corredor, nos braços do meu parceiro de dança, e ser jogada na cama do meu aconchegante quarto. Poderíamos foder ali por horas e horas, depois tomar uma ducha quente em minha suíte. Nos jogaríamos diversas vezes no sofá da sala de TV depois das grandes bebedeiras, esperando que o cheiro da naftalina anulasse o fedor da cachaça. Conversaríamos e nos pegaríamos muitas vezes naquele mesmo sofá. Depois de um tempo namoraríamos. Acabaríamos um longo curso de teatro. Para economizar, moraríamos juntos. Poderíamos ter um gato felpudo que dormiria no quartinho dos fundos. Logo no apertado banheiro dos fundos, choraríamos por um simples teste positivo. Na minha enorme cozinha meu amado iria acariciar minha barriga da primeira gravidez, e também alimentar nosso segundo filho antes da creche. Brigaríamos diversas vezes na mesma sala onde tudo começara. Depois de muitos anos deixaríamos o apê para nossa caçula que iria se casar pouco antes da nossa separação. A visitaríamos varias vezes, se encontrando e brigando. Acabaríamos nos reapaixonando. Morreríamos velhinhos, juntos, tomando café com a família na sala de jantar improvisada. Deixo meus devaneios saindo e trancando a porta. Sigo para entregar a chave ao novo proprietário, para finalmente chegar ao meu pequeno loft, onde não há espaço nem pra um puff, quanto mais para os meus sonhos.
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